Posted: 31 Oct 2012 07:00 PM PDT
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Na maior parte dos casos, a DTM afeta pessoas de 30 a 50 anos, principalmente do sexo feminino
Quase ninguém sabe
que ela existe, mas na cabeça está uma das engrenagens mais ativas do
organismo: a ATM, articulação temporomandibular. Além de conectar a
mandíbula ao crânio, ela é responsável por todos os movimentos dos
maxilares e da boca, incluindo mastigação, deglutição e fala.
Também poucas
pessoas desconfiam que o desarranjo dessa engrenagem possa trazer tanto
prejuízo ao organismo. Dores na face e nos maxilares, dificuldade ou
cansaço para mastigar ou falar, ruídos ou estalos ao abrir e fechar a
boca, travamento da abertura da boca, pressão atrás dos olhos, dor ou
zumbido nos ouvidos, dor de cabeça, inchaço na lateral do rosto,
problemas para dormir – todos esses sintomas apontam que há algo de
errado com ela.
Ainda pouco
conhecida, a disfunção da ATM – chamada de DTM (disfunção
temporomandibular) – surge, na maioria das vezes, em decorrência do mau
hábito de se pressionar, apertar ou travar os dentes. Além de forçar os
músculos faciais, provocando dores, essa sobrecarga também pode afetar o
disco articular (um tipo de almofada que alivia o atrito toda vez que
se abre e fecha a boca), deixando-o mais fibroso e com mobilidade
comprometida.
Os vilões e suas maiores vítimas
Estima-se que 3% da
população mundial sofra com esse problema, que se manifesta de
diferentes formas (veja quadro). “Porém, esse número vem crescendo
constantemente, principalmente nas regiões urbanas”, afirma o cirurgião
bucomaxilofacial e especialista em dor orofacial Giuliano Cossolin,
responsável pelo Ambulatório de Cirurgia Oral e Maxilofacial da
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Isso porque a DTM está no
rol das doenças da modernidade: ansiedade, tensão e estresse – muito
presentes na vida urbana de hoje – estão entre os principais estopins
desse distúrbio.
Além deles, outros
fatores em conjunto podem favorecer essa disfunção: problemas oclusais
(mordida cruzada, falta de dentes etc), bruxismo (ranger involuntário
dos dentes durante o sono), maus hábitos – como apertar os dentes,
mascar chicletes excessivamente, roer as unhas, morder tampa de caneta
–, sedentarismo e má postura.
“Até mesmo pequenos
traumas (como quedas ou soco no queixo) ou leves batidas de carro podem
gerar lesão nos músculos ou desestabilizar a articulação, favorecendo o
aparecimento da DTM”, afirma o reumatologista José Goldenberg, do
Hospital Israelita Albert Einstein e coautor do livro Disfunção
Temporomandibular (DTM) – Conheça Seu Impacto em Sua Saúde (editora
Atheneu).
Cerca de 80% dos casos de DTM são tratados com o uso de placas de mordida
Na maior parte dos
casos, essa disfunção afeta pessoas de 30 a 50 anos, principalmente do
sexo feminino. “Para cada oito mulheres com esse problema, há dois
homens na mesma situação”, afirma o cirurgião bucomaxilofacial José
Flávio Torezan, membro da International Association of Oral and
Maxillofacial Surgeons. Ainda não se sabe ao certo o por que dessa
prevalência entre as mulheres. Uma das hipóteses é a de que os hormônios
teriam algum papel no surgimento da DTM – porém, pesquisas ainda estão
em andamento para comprovar tal relação.
Como prevenir o distúrbio
Evite apertar os dentes, pressionar a língua contra eles ou morder a bochecha;
Não durma com a mão apoiada diretamente na mandíbula;
Abandone os hábitos de morder a ponta da caneta, roer unha ou mascar chiclete demasiadamente;
Evite mastigar alimentos muito duros, que exijam força excessiva das arcadas dentárias;
Faça uma atividade física regular (pelo menos três vezes por semana, por 30 minutos);
Procure ter uma boa
postura, mantendo a coluna ereta, especialmente se trabalha o dia todo
numa mesma posição (por exemplo, sentado diante do computador). Nesse
caso, faça pausas frequentes, movimentando o corpo e alongando a
coluna;
Reserve momentos
para relaxar e reduzir o estresse, com medidas como atividade física,
meditação, técnicas de respiração e relaxamento, caminhada no parque
etc;
Procure um
dentista, se possível especialista em DTM, assim que notar a permanência
de algum sintoma desse distúrbio. Um diagnóstico precoce torna seu
tratamento mais fácil e evita que a dor aguda se torne crônica;
Fonte: cirurgião-dentista Giuliano Cossolin e reumatologista José Goldenberg.
Romaria pelo diagnóstico
Não é raro ouvir
histórias de pacientes que perambularam por diversos consultórios,
passando em neurologistas, otorrinos e reumatologistas, para finalmente
terem o problema decifrado na cadeira de um dentista. Há casos de
doentes que tiveram que esperar por mais de duas décadas para receber o
tratamento correto. A razão disso é uma só: diagnosticar a DTM está
longe de ser uma tarefa simples.
Devido aos seus
sintomas, ela pode facilmente ser confundida com outras doenças, como
enxaqueca, otalgia (dores no ouvido), distúrbio do nervo trigêmeo
(constituído pelo nervo maxilar, mandibular e oftálmico), e problemas
oftalmológicos, em decorrência de dores ou pressão atrás dos olhos.
Alguns exames de
imagem até podem ajudar a identificar o problema ou a descartar outros
possíveis distúrbios, porém o diagnóstico é clínico: depende muito da
perícia do profissional em examinar o paciente e avaliar as informações
trazidas por ele a respeito dos seus sintomas, histórico de saúde, tipo
de trabalho e estilo de vida.
Além disso, por
muitos anos houve um outro fator complicador: a falta de especialistas
nessa área. A DTM é uma especialidade nova – ela só foi oficializada no
Brasil como parte da odontologia em 2001. Antes, quem sofria desse mal
não tinha um profissional certo a quem pudesse recorrer e era obrigado a
enfrentar essa via sacra sem fim, que nem sempre chegava até o
dentista.
Atualmente, com
essa regulamentação e com a recente criação da Sociedade Brasileira de
Disfunção Temporomandibular e Dor Orofacial, achar um profissional
gabaritado ficou mais fácil – no site da própria entidade (www.sbdof.com) há uma lista de especialistas em diversas cidades.
Os tipos de DTM
Muscular: é a
mais frequente delas (representa cerca de 70% dos casos) e surge em
decorrência de excesso de tensão ou sobrecarga na musculatura, provocada
por hábitos como pressionar os dentes, morder tampa de caneta e mascar
chicletes em excesso. Ela pode gerar dores difusas na face.
Articular: é
provocada por alterações nas estruturas ósseas, capsulares (membranas),
do disco articular (cartilaginoso) ou do líquido sinovial (um tipo de
lubrificante). Nesse caso, as dores são mais localizadas.
Mista: segundo tipo mais comum, ela mescla sintomas da DTM articular e muscular
Reumatológica: a
menos frequente, é causada por uma degeneração do disco e da articulação
temporomandibular, que culmina em muita dor. Tem origem em doenças
degenerativas, como artrite reumatoide
De bilhetinhos à terapia
Na grande maioria
das vezes, o problema da DTM pode ser resolvido com procedimentos
clínicos, sem grandes intervenções. Cerca de 80% dos casos são tratados
com o uso de aparelhos ortodônticos (para corrigir problemas de mordida)
e placas de mordida (que ajudam a impedir que os músculos da face se
contraiam ao máximo quando os pacientes apertam os dentes), fisioterapia
e psicoterapia.
Um outro tratamento
pode ser realizado por um dentista, com pequenos ajustes na mordida,
através de desgastes dentários, o que possibilitaria um maior
engrenamento da mordida.
Até mesmo avisos em
bilhetinhos e sinais colados no ambiente de trabalho ou na casa do
paciente podem fazer parte da receita médica. Isso ajuda aqueles que têm
o hábito de apertar os dentes durante o dia a se autopoliciarem,
evitando, assim, essa sobrecarga na região.
Em situações de
muita dor, os especialistas recomendam, como coadjuvantes ao tratamento,
medicamentos ou laser de baixa potência, que têm efeito
anti-inflamatório e aliviam o incômodo, dispensando cirurgias. Elas só
são indicadas numa minoria das vezes, em casos graves, como os de
calcificação da articulação (anquilose) ou de algum tumor (neoplasia).
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